ÍLDIMA LIMA

SALVADOR (BA), 1981

A illi nasceu de um forte desejo de me expressar artisticamente, mas com a percepção de que este trabalho carrega uma doce responsabilidade, não podendo ser gratuito ou leviano. Para além da paixão pela botânica, refletida com exaltação em minhas composições, senti a necessidade de criar um universo feminino que protagonizasse a individualidade da mulher negra. Um estudo sobre as formas de representação da mulher negra no campo das artes plásticas, pesquisa que desenvolvo desde 2017, revela que nossos corpos quase sempre estiveram associados a um estereótipo racista e machista, objetificados e aprisionados num conceito exótico, etnográfico, alegórico e encobertos por um apagamento identitário. Essa leitura resultou no entendimento de que meu trabalho deveria trilhar uma estrada natural que ecoasse visualmente em conteúdos de humanização da nossa existência, expressão das nossas singularidades e representatividade positiva dos nossos corpos. 

O meu trabalho é um ato político, uma forma pessoal e artística de militância referente às questões de gênero e de raça. Honrar a ancestralidade e avançar na busca de conhecimento sobre nossa história, a história do povo preto, aquela que não está nos livros, sem dúvida é o meu maior combustível. Minhas pinturas respiram esse universo feminino, construído de múltiplas camadas, formas de vida e de linguagem para além da referência dos cânones da arte europeia. O resultado é um misto de ancestralidade e afrofuturismo, uma constante homenagem às mulheres negras da minha família, à tantas outras que a vida me deu e todas aquelas que se conectam com meu trabalho.  Em essência, meu desejo é que elas se sintam representadas no amplo aspecto das suas individualidades, potencialidades e virtudes.