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Nesta seção, você encontra uma seleção de publicações acadêmicas com temáticas em torno das questões entre arte e raça. Ao clicar, redirecionamos você para os sites de origem de cada uma delas.

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A invisível luz que projeta a sombra do agora: gênero, artefato e epistemologias na arte contemporânea brasileira de autoria negra

Janaina Barros Silva Viana

Universidade de São Paulo

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2018

Palavras-chave: Autoria negra, gênero e artefato, arte brasileira contemporânea. epistemologias

Nesta pesquisa propõe-se o debate sobre aspectos da experimentação em artes visuais pautado no papel do autor e nos discursos traçados pelas relações de identidade e alteridade na arte contemporânea. O retorno à ideia do artista como autor e a individualização dos critérios artísticos ao longo do século XX e XXI tornam-se fundamentais para discutir visualidades em busca de redefinições a respeito das formas de protagonismos no cenário artístico como é o caso de produções associadas diretamente ao epíteto arte afro-brasileira, no sentido em que se refere a produções múltiplas em temas, linguagens, discursos e estratégias de leituras. Traça-se um breve panorama sobre uma cena de autoria negra e seus trânsitos em espaços institucionais nas últimas décadas. Além de apresentar um recorte que considera a leitura da própria pesquisa poética visual. Tem-se como interesse, refletir sobre a construção de epistemologias a partir do debate de gênero e artefato na arte contemporânea. Assim, destacam-se nesta discussão os trabalhos de Rosana Paulino, Sonia Gomes e Lidia Lisboa. O artefato aparece nesta escrita como performance e método: escrita contranarrativa, memória e gesto político. Apresenta a problemática nos lugares de fricção em relação às terminologias instauradas, às condutas poéticas e éticas na arte contemporânea e suas epistemologias. Qual a relevância em sinalizar a origem étnica de uma autoria numa dada forma poética dentro de um contexto histórico e político? Quais movimentos na confuguração de um discurso visual implicam na construção de uma leitura sobre gênero? Quais gestos operativos sinalizam essa condição? De qual maneira nós construímos os nossos olhares e nossas perspectivas nesta encruzilhada sobre a ideia de histórias pessoais e universalidades, microestruturas e macroestruturas? Quando estas autorias falam por si? Qual o lugar possível de legitimidade delas? Quais são as estratégias possíveis de reescritas de contranarrativas?

Imagens de Sombras

Rosana Paulino

Universidade de São Paulo

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2011

Palavras-chave: Escravidão, Gravura, Marcas, Mulheres, Texto

O objetivo desta tese é construir, através de trabalhos realizados na área de poéticas visuais, uma reflexão que procure compreender como a mulher negra é vista na sociedade brasileira atual e o modo pelo qual as sombras lançadas pela escravidão sobre esta população se refletem nas negrodescendentes ainda hoje, criando e perpetuando locais simbólicos e sociais para este grupo. Este questionamento será realizado tendo como base uma investigação que transita entre diferentes manifestações artísticas, que vão da instalação à gravura, sempre procurando os meios plásticos adequados para a produção das obras que irão tratar do problema. Uma breve análise sobre os motivos que levam à opção por determinados procedimentos técnicos necessários à realização dos trabalhos, a escolha e aplicação de diferentes meios artísticos e suas adaptações ao pensamento visual também fazem parte desta investigação. É ainda intenção do trabalho pensar sobre a forma de apresentação do texto que acompanha as obras produzidas e esclarecer os motivos da eleição por uma escrita de artista para o relato apresentado em conjunto com as imagens executadas.

Galeria & senzala: a (im)pertinência da presença negra nas artes no Brasil

Adriana de Oliveira Silva

Universidade de São Paulo

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2018

Palavras-chave: Antropologia da experiência, Antropologia da performance, Arte afro-brasileira, Presença, Raça

Diversos são os modos como artistas negros lançam mão (ou não) de uma herança afro-brasileira em experiências individuais e coletivas para se (a)firmarem como pessoas e artistas. Essa questão se tornou mais decisiva num momento em que uma parcela da sociedade brasileira escancara seu repúdio ao empoderamento negro resultante de ações populares e governamentais, tais como a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira em sala de aula, a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) em 2003, a instituição do Estatuto da Igualdade Racial, em 2010, e a decisão pela constitucionalidade das cotas raciais pelo Superior Tribunal Federal, em 2012. Mais recentemente, em São Paulo, a atenção se voltou para a presença negra nas artes, devido à controvérsia em torno do uso de blackface numa peça que seria encenada num importante centro cultural da capital. A peça foi cancelada e o repúdio à prática do blackface gerou um debate sobre a representação do negro nas artes no país, escavando antigos mal-entendidos sobre mestiçagem e racismo no Brasil. Tendo este contexto explosivo como pano de fundo, explorou-se, nesta pesquisa, a experiência de artistas negros da atualidade. Os relatos autobiográficos de sua inserção no mundo das artes revelam, entre outras coisas, as estratégias desses artistas para escapar do racismo e, no limite, passar-se por branco mesmo quando se afirmam como negros. Como mulher e pesquisadora negra, percebi-me enredada em ambiguidades semelhantes às dos artistas e curadores com quem convivi. Consequentemente, o pacto etnográfico entre mim e meus interlocutores de pesquisa baseou-se no enfrentamento de uma longa história de racismo e da necessidade de tornar-se o que se é negro. Tendo como aporte teórico uma antropologia da experiência e da performance, a pesquisa mostrou que a arte é fundamental no processo de tornar-se negro, tanto para o artista quanto para a sociedade, por pelo menos duas razões: 1) por mostrar o óbvio que mãos negras não servem apenas para a lidar com fluídos corporais com que mãos brancas não querem lidar; 2) por mostrar o que a sociedade em geral deseja manter oculto, isto é, a contribuição de cada cidadão brasileiro na criação de um país violento e desigual a maioria de nós ainda se conforma em se ver como bom mestiço, senão branco, e, assim, denunciar o racismo ao mesmo tempo em que se mantém racista. É contra isso, no entanto, que artistas negros objetificam o próprio corpo em performances: o cabelo vira Bombril, o corpo sangra, é coberto por mãos/ imagens brancas ou é abatido pela violência, como no caso de Priscila Rezende, Michelle Mattiuzzi, Olyvia Bynum, Dalton Paula, Peter de Brito, Flávio Cerqueira e Sidney Amaral. É contra isso que tecem e esculpem tetas que denunciam antes e hoje ainda alimentam o mundo inteiro sem alimentam os próprios filhos, como Lidia Lisbôa. É contra isso também que fazem ebós, sacudimentos e assentamentos, como Moisés Patrício, Ayrson Heráclito e Rosana Paulino. E, também, obras em que a beleza e a delicadeza remetem a conhecimentos ancestrais, que, ainda por preconceito racial, são menosprezadas como arte indigente, mas, por outro lado, também passaram a ser reconhecidas como Arte com maiúscula, sem que a cor das mãos de quem as produziu seja embranquecida, como no caso de Sônia Gomes. Ao narrar seus dilemas e conquistas, esses artistas mostram as ambiguidades de pensar alteridade e universalidade considerando raça como um lugar de experiência, que marca a sua presença e obra no mundo.

Museu afro Brasil no contexto da diáspora : dimensões contra-hegemônicas das artes e culturas negras

Nelson Fernando Inocencio da Silva

Universidade de Brasília

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2013

Palavras-chave: Museus de arte, Cultura afro-brasileira, Diáspora africana

O presente trabalho é um exercício que implica na investigação acerca dos processos individual e coletivo que culminaram na fundação do Museu Afro Brasil em 2004. Além de um estudo que lida com os antecedentes que pavimentaram o caminho rumo à consolidação de um projeto construído para superar as invisibilidades da população negra no país, por meio de um modo artístico de ver, a pesquisa possui outra ambição: compreender o conceito que dá sentido às mostras de longa duração exibidas na instituição mencionada. Estes são os dois eixos desta tese que se ocupa de questões alusivas à representação da alteridadeafrodescendente no ambiente específico do museu em estudo. As exposições de artes e culturas afro-brasileiras patrocinadas por museus locais são conhecidas e, muitas das vezes, elas expressam problemáticos pontos de vista de tais instituições. Evitando essencialismos é possível dizer que existem diferenças significativas entre as identidades criadas para um grupo de pessoas e as identidades construídaspor elas mesmas, enquanto sujeitos da própria história.Seguindo esta perspectiva o estudo, que toma o Museu Afro Brasil como referência, pode ajudar no alcance de uma compreensão. O percurso se inicia com uma abordagem sobre Emanoel Araújo, a pessoa que concebeu o Museu e trabalhou por mais de duas décadas atrás para torná-lo realidade. Posteriormente, o contexto histórico é analisado, considerando as demandas sociais que contribuem para fortalecer a proposta da instituição em destaque. Por fim, a visita pelas exposições de longa duração serve como um convite na procura de pistas que levem a entender o discurso visual adotado pelo Diretor/ Curador do Museu Afro Brasil. O Objetivo é o de saber como tais representações visuais estão relacionadas com a conjuntura atual na qual as políticas públicas para valorizar o legado da diáspora africana constituem uma estratégia contra hegemônica face às persistentes e antiquadas ideias coloniais.

Baobá: Ayrson Heráclito e a Árvore da Vida

Renata Simoni Homem de Carvalho

Universidade de Brasília

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2018

Palavras-chave: Heráclito, Ayrson, 1968, crítica e interpretação Arte, aspectos sociológicos, Arte afro-brasileira, Candomblé, Diáspora africana, Identidade

Esta tese trata da pesquisa acerca do trabalho de um importante artista brasileiro chamado Ayrson Heráclito, cuja obra traz religiosidade, história, cultura e herança afro para discutir profundas questões da nossa sociedade. O artista trabalha com performance, fotografia, vídeo e instalação, e incorpora em sua obra elementos culturais de forte teor simbólico como o açúcar, o dendê e a carne de charque. Heráclito olha para o passado para falar de diáspora negra, escravidão e sonhos de liberdade; olha para o presente buscando os significados de identidade e pertencimento; olha para o futuro quebrando paradigmas, gerando mudanças e esperança. A análise de suas obras nos permite descontruir um pensamento hegemônico com bases no colonialismo, que tende a ser destruído e recriado em todo o mundo, como parte da corrente do hemisfério sul que reivindica seu lugar de fala e de construção do conhecimento. Heráclito é praticante do candomblé e acredita que a arte tem um potencial ritualístico e curativo, capaz de transmutar dores e sanar feridas do passado. Sua obra gera, de fato, consciência espiritual e política ao mesmo tempo. Veremos que sua poética além de contemplativa é reveladora e transformadora.

Identidades nas artes visuais contemporâneas: elaboração de uma possível leitura da trajetória de Ayrson Heráclito, artista visual afro-brasileiro

Nelma Cristina Silva Barbosa de Mattos

Universidade Federal da Bahia

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2018

Palavras-chave: Identidade, Arte Afro-brasileira, Arte contemporânea, Artista afro-brasileiro, Heráclito, Ayrson, 1968, Arte negra – Brasil, Arte brasileira – Sec. XXI – Influências africanas

O presente trabalho elabora uma interpretação sobre a identidade afro-brasileira no meio da arte contemporânea. No desenrolar desta pesquisa, tentamos salientar algumas pistas, visando identificar, analisar e compreender o processo de construção de discursos identitários de afirmação negra na trajetória profissional do artista plástico contemporâneo rotulado pelo sistema da arte como artista afro-brasileiro. Para tal, optamos por utilizar o estudo de caso único como método, tendo como unidade-caso o artista Ayrson Heráclito, destacado atualmente na produção artística nacional e internacional, mesmo não vivendo em regiões centrais e legitimadoras do circuito econômico das obras de arte. No intuito de municiar melhor nossos argumentos, analisamos assuntos da vida profissional do artista visual de origem negra, a exemplo dos conceitos de: arte afro-brasileira, a profissão de artista, arte contemporânea, globalização e sistema da arte. Considerando as relações de poder no contexto da produção artística, refletimos ainda sobre asidentidades, cultura, raça e nação, entre outros temas necessários para compreendermos as relações no contexto da vida profissional do artista afro-brasileiro. Partimos da ideia de arte afro-brasileira, pois esta não é uma qualidade de arte que segue estilos canônicos, a exemplo de movimentos artísticos reconhecidos pela história oficial. Esse tipo de arte, por se desenvolver em um ambiente marcado por desigualdades raciais e de tradicionais hierarquias, repercute as idiossincrasias da temática identitária nacional. A identidade é uma questão relevante no âmbito da arte contemporânea, pois movimentos sociais reivindicatórios, sustentados em discursos identitários, também influenciam as narrativas visuais. A legitimação da arte atual resulta da relação de força dos agentes institucionais que integram o sistema oficial da arte e que estabelece critérios de qualidade artística segundo seus interesses. O referido mecanismo, responsável pelo que entendemos ou não como sendo arte contemporânea, tem sido obrigado a reconhecer identificações e visualidades historicamente negadas. Nosso estudo também descreve como a arte e o artista afro-brasileiros se tornaram elementos reconhecidos no círculo das artes plásticas nacionais, discorrendo sobre algumas de suas principais referências. Mas, por investigar um texto identitário, ouvimos Ayrson Heráclito e confrontamos a visão de si com a visão externa sobre ele. As análises indicaram que políticas afirmativas para artistas periféricos motivam declarações identitárias e o acesso ao ensino superior facilita a circulação ou sobrevivência do profissional da arte. A demanda por diversidade influencia a circulação das obras, empodera e reposiciona artistas e demais profissionais no meio artístico. A identidade afro-brasileira se estabelece como plataforma política. A experiência cultural negra engendra possibilidades discursivas diferentes entre si e, quando se faz presente através de um sujeito, lida com mecanismos capazes de alterar os sentidos operados pelo conjunto total de criadores.

Montagem fílmica e exposição: vozes negras no cubo branco da arte brasileira

Igor Moraes Simões

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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2019

Palavras-chave: Montagem fílmica, Exposição, História da Arte, Racialização

A tese que apresento parte da noção de montagem fílmica, conceito que tomo emprestado do campo do cinema, para pensar os objetos em estado de exposição como fragmentos, que articulam sentidos a partir de encontros afetivos e bélicos em constante negociação no espaço expositivo. Para construir esse lugar de onde vejo a história da arte, reúno o pensamento-filme de Marcelo Masagão e Sergei Eisenstein com os aportes de Achile Mbembe, Georges Didi-Huberman, e Giorgio Agamben, entre outros autores que me acompanham nessa empreitada. Dentro dessa perspectiva, penso as exposições como ilhas de edição que constroem histórias não previstas na História da Arte, disciplina de matriz europeia que junto com a herança colonial constituiu também os cânones daquilo que se denomina como arte brasileira. O foco da minha análise está em dois estudos de caso: as mostras Territórios: Artistas afrodescendentes no Acervo da Pinacoteca (2015/2016) e Histórias Afro-Atlânticas (2018), nas quais identifico a constituição de narrativas válidas para histórias da arte, parcamente abordadas na historiografia da arte brasileira. A partir dessas exposições, aponto cruzamentos com matrizes e recorrências na história da arte brasileira, analisando objetos produzidos por sujeitos racializados e compreendendo que suas produções tendem a sofrer os mesmos efeitos que seus corpos em uma sociedade marcada pela herança colonial e pelo racismo estrutural. Escrevo a partir do reconhecimento de minha posição marcada como homem negro e historiador da arte, em uma disciplina e um campo tão alvo quanto o cubo que foi depositário dos seus modernismos. Estão aqui as vozes negras que me acompanharam nesse trabalho como artistas, professores e curadores. A tese foi construída de forma a dar conta das permanências da História da Arte como disciplina; da constante manutenção de saberes que passam por questões de raça; da montagem fílmica como ferramenta para escritas da história da arte que se não se pretendem definitivas. As exposições reposicionam a produção de homens e mulheres negras, bem como as suas histórias, em uma perspectiva que inscreve como humanos aqueles que, durante muito tempo, foram alvo não apenas de silenciamentos, mas também de uma escuta seletiva; não apenas de invisibilidade, mas de uma cegueira orquestrada. Em um tempo contemporâneo, marcado pelas disputas, assinalam-se as vozes e fazeres de mulheres e homens negros e negras de forma a redefinir os saberes constituídos.

A construção da identidade afrodescendente por meio das artes visuais contemporâneas: estudos de produções e de poéticas

Renata Aparecida Felinto dos Santos

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

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2016

Palavras-chave: Artes visuais, Diáspora, Afrodescendente, Identidade

Esta proposta de pesquisa de doutorado possui alguns pontos de investigação, sendo três deles os mais pertinentes. O primeiro é uma breve revisão da presença de artistas afrodescendentes na História da Arte do Brasil pretendendo tanto relembrar e revelar personagens quanto observar como as Artes Visuais produzidas por artistas afrodescendentes foram observadas, registradas e nomeadas ao longo dos séculos por pesquisadores, críticos e historiadores. O segundo propõe a reflexão acerca da transposição e do emprego do termo “afro-brasileiro” ou “afro-brasileira” dos Estados Unidos da América para o Brasil na área de Artes Visuais, com fins de categorização da produção de artistas afrodescendentes, que possuem ou não pesquisas temáticas, conceituais, estéticas e/ou poéticas voltadas às questões relacionadas à história do segmento afrodescendente da população. Por fim, o terceiro se presta a apresentar e a analisar as produções de artistas afrodescendentes brasileiros e estadunidenses que demonstraram interesse por elaborar obras cujas visualidades e estéticas estivessem em diálogo com as questões da diáspora africana ou mesmo, de forma simples, com suas origens africanas. A apresentação e análise dessas obras foram realizadas de forma cronológica observando-se as biografias, as formações, as temáticas e as pesquisas de interesses dos artistas selecionados, configurando, dessa forma, um corpus de artistas afrodescendentes cujo conjunto de atributos inerentes às suas obras constituiriam uma arte afro-brasileira ou afro-americana, ou ainda, o que seria mais interessante e pertinente do ponto de vista da discussão aqui iniciada, arte afrodescendente ou afrodiaspórica.

A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra, reflexões e diálogos a partir do Brasil

Tiganá Santana Neves Santos

Universidade de São Paulo

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2019

Palavras-chave: Bantu-Kongo, Bunseki Fu-Kiau, Negritude, Sentenças em Linguagem Proverbial, Tradução

Esta pesquisa é focada nos Estudos da Tradução, em diálogo, sobretudo, com filosofias e pensares africanos, europeus, latino-americanos e diaspóricos. A partir da tradução do livro de Bunseki Fu-Kiau — Cosmologia africana dos bantu-kongo: princípios de vida e vivência –, escrito em inglês, para a língua-cultura (luso)brasileira, foi reconhecida a centralidade das sentenças em linguagem proverbial (kingana), originalmente, apresentadas pelo autor de modo bilíngue (kikongo – inglês). A análise tradutória concentrou-se em tais sentenças, e aspectos fulcrais do pensamento bantu-kongo precisaram somar-se à análise em torno do traduzir, para que se pensasse o seu processo, efetivamente, como interação. Princípios filosóficoculturais tais como o do cosmograma kongo (Dikenga dia Kongo), minika ye minienie (ondas e radiações) e o princípio V são alguns dos vetores relevantes para se pensar o sistema bantukongo, bem como para nele entrar por meio da tradução. A acepção de uma tradução negra surge do contato com as sentenças em linguagem proverbial e seu apelo já histórico por um entendimento das diversas camadas de negritude enquanto resposta legítima a um contexto de hegemonias eurocentradas e opressão, inclusive, epistemológica. Cunhou-se a ideia do tradutor- ndoki ou tradutor-feiticeiro como aquela pessoa que, efetivamente, apreende os encontros éticos enquanto articulações ou trabalho com as linguagens a partir da apreensão do real como algo constituído por partes co-pertencentes que, necessariamente, se intercomunicam. Eis a ideia kongo de totalidade: relação estabelecida entre entes, seres, coisas, imaterialidades existentes em qualquer dimensão de realidade. Percebe-se que as sentenças proverbiais, as quais, em culturas ocidentais, enquadram-se nos estudos da paremiologia, apresentam distinções importantes, no que tange ao que se conhece como provérbios. Tais distinções acontecem em termos estruturais, na sua aplicação, na sua linguagem e performance, na sua contextualização e na sua repercussão social. Por essa razão, optou-se pelo emprego da expressão sentenças em linguagem proverbial (kingana, em kikongo — língua dos bantu-kongo ou bakongo), em lugar de se utilizar o termo provérbio. No que diz respeito a culturas ocidentais, constatou-se que as sentenças em linguagem proverbial aproximam-se mais dos aforismos, diante do seu prevalente caráter filosófico. No entanto, é preciso atentar para o fato de que filosofias presentes no continente africano (bantu, yoruba, etc.) também são evocadas, a fim de que se configure uma discussão teórica mais simétrica e que, sem pretensões de universalidade ou resolução, possase contribuir para as reflexões sobre o traduzir.