JOSÉ MARCAL

ITABUNA (BA), 1976

José Marçal é um fotógrafo brasileiro. Seu trabalho consiste em retratos íntimos em que a babá se torna uma metáfora para o mundo interior do fotógrafo. Transitando entre o erótico e o onírico, as imagens utilizam o corpo como espaço para discutir sexualidade, liberdade e prazer estético. Nascido na cidade de Itabuna, na Bahia, José mudou-se ainda adolescente para o Rio de Janeiro, onde se tornou técnico de laboratório de fotografia na Agência Foto-in-Cena. Depois de algumas viagens ao exterior, mudou-se para Berlim, na Alemanha, em 2006. Em 2012 completou seus estudos na Neue Schule für Fotografie Berlin.

 

Os retratos de Marçal mostram uma grande variedade de sitters. Eles posam dentro do ateliê do artista, interagindo com objetos, máscaras e tecidos. Essas interações incutem uma qualidade surrealista às imagens, pois frequentemente adicionam um elemento perturbador para desequilibrar a normalidade. O corpo da babá muitas vezes está em evidência, mas ao longo da obra, há uma interação consistente entre o que está oculto e o que é revelado. Às vezes, os rostos são obscurecidos enquanto os genitais são mostrados, e vice-versa. Essa tensão enriquece as imagens com sugestões de desejo e prazer sexual. Por outro lado, há também um aceno à arte acadêmica, já que algumas poses estatuetas elevam as figuras ao reino da tradição, distante dos prazeres terrenos. Influenciada pelo trabalho de fotógrafos de moda como Richard Avedon, a própria experiência de José com a fotografia editorial também entra em evidência, já que cortinas e roupas desempenham um papel fundamental na narrativa visual.

 

Para além do vocabulário editorial do ensaio fotográfico, no entanto, as fotografias de José Marçal servem como meio de autoexpressão. A qualidade sensual das imagens é um exercício de liberdade, a liberdade de explorar a alegria e a sexualidade. Em algumas das imagens mais sombrias, figuras sombrias e poses contorcidas podem aparecer como expressões de mágoa, solidão ou tensão emocional. Por outro lado, a artista não foge do prazer estético, pois os efeitos coloridos, a onipresença das flores e o equilíbrio dos sujeitos sem roupa criam um espaço para celebrar a beleza sem pudor. As imagens parecem falar de um mundo interior, mas também apontam para estados de ser que são universais. Os modelos do artista, adquiridos por meio de anúncios classificados, muitas vezes são voluntários sem conexão prévia com o fotógrafo. José não procura produzir retratos no sentido de que eles devem revelar algo sobre a babá, mas simplesmente toma emprestada sua figura para discutir assuntos muito mais amplos e próximos da experiência humana. O nu, na obra do artista, poderia ser visto como um equalizador, um dispositivo para representar a atemporalidade do eu e da humanidade. Essa tentativa de ressoar com o espectador por meio de experiências compartilhadas é deliberada. Em cada imagem, há um esforço para tirar a babá do mundano e levá-la a um espaço estético que exala elegância, aceitação e beleza. O nu, então, torna-se um meio de comunicação.

 

Os corpos na obra de José são metáforas de mundos possíveis. A câmera se torna um veículo para sonhar e aspirar e, ao mesmo tempo, serve como um meio para lidar com as tensões processadas através da lente. Seja como for, as fotografias de José Marçal são um produto da visão pessoal. Através da sua abordagem idiossincrática, José Marçal apresenta uma exploração meticulosa do seu mundo interior, transformado em imagem para que outros possam participar nos prazeres e lutas de olhar também para dentro.

 

Site: https://jose-marcal.format.com/

Instagram: @jose.marcal.photo.official

Wrong Side of Midnight, Outubro, 2021 - Forum der Neuele fur Fotografie Berlin.]

Traum, junho, 2012 - Forum der Neuen Schule fur Fotografie Berlin

Estado: BAHIA
Categorias: Fotografia

Atualizado em 29.11.2023