BIRICO: PROJETO REÚNE 30 ARTISTAS EM PROL DA CRACOLÂNDIA
por Deri Andrade
28 de julho de 2020
“Alguns artistas foram convidados para participar do projeto por terem em seus discursos ou em suas pesquisas algum diálogo com a realidade que o grupo gostaria de desestigmatizar”, explica para o Projeto Afro o artista Pablo Vieira. Ele fala sobre a região da Cracolândia, um território central em São Paulo marcado pela vulnerabilidade social. O projeto que menciona é o Birico, que reuniu 30 artistas de diversas linguagens e condições sociais com a intenção de gerar uma economia colaborativa para dar fôlego às ações que acontecem na Craco, como é popularmente conhecida, com a venda de pôsteres e impressões de tiragem limitada a preços acessíveis.
A cultura e a arte já atuam na Cracolândia há algum tempo, exercendo seu papel social através da ação de diversos coletivos, entre eles A Craco Resiste, Casa Rodante, Cia. Mungunzá, É de Lei, Pessoal do Faroeste, Projeto Oficinas e Sem Ternos. São projetos realizados no intuito de mitigar as dificuldades enfrentadas por pessoas em situação de rua e por usuários que habitam a região. Diante dos desafios impostos pela pandemia causada pela Covid-19, a disparidade social ficou ainda mais excludente no local.
Raphael Escobar, outro artista por trás do Birico, explica que a ideia foi reunir agentes de diversas áreas da arte em prol de um tema caro a todos. “Nós não vemos o território com uma relação de dó e nem responsabilizamos o usuário pela sua situação, nesse grupo existe um consenso que a responsabilidade desse território e das pessoas é do Estado. Talvez seja o ponto mais importante de maior intersecção entre todos e todas nós”, cita.
Com uma loja online lançada há poucas semanas nesta reta final – as vendas ocorrem até 31 de julho -, Escobar conta que o projeto já vendeu mais de 666 obras, entre prints numerados e pôsteres, para 150 apoiadores diferentes. “Esperamos que até o fim da ação possamos garantir um valor maior que um salário mínimo para cada artista participante, além da possibilidade de continuidade de ações no território como a distribuição de máscaras de proteção contra a Covid-19, por exemplo”, pontua o artista.
Os recursos arrecadados pelo Birico serão divididos igualmente entre dois fundos criados, um para apoiar ações emergenciais na Cracolândia e outro para ser repartido igualmente entre os/as/es artistas participantes. Alguns, inclusive, integram projetos que apoiam a região; outros vivem ou viveram no território, na calçada ou em hotéis sociais na Craco.
Vieira explica que a atuação do Birico também garante mais uma fonte de renda aos artistas em situação de vulnerabilidade. Além disso, “seus trabalhos são inseridos em um sistema historicamente excludente como o das artes, tentando garantir a possibilidade de democratização do pensamento estético e horizontalização dos lucros, pautas bastante difíceis de serem implementadas usando as ferramentas que o mercado de arte nos proporciona nesse momento”, enfatiza o artista, que apresenta um pôster com o título Cuidado sabão da costa, criado especialmente para o projeto. Além de Pablo Vieira, o Birico reúne trabalhos de outras artistas que estão no mapeamento do Projeto Afro, como Mônica Ventura, Juliana dos Santos, Aline Motta e Renata Felinto.
Com a força do coletivo, o Birico foi se formando horizontalmente. Seus integrantes realizam as funções que o projeto demanda, como a elaboração dos catálogos, a gestão do site e do perfil no Instagram. A produção ficou a cargo de Marina Barbosa. Birico é o nome dado à pedra de crack repartida. Como seu texto introdutório explica, o projeto surge em um momento distópico para formular “uma estratégia de sobrevivência e, muitas vezes, de solidariedade e parceria, de quem está acostumado a viver com poucos recursos.”
Confira o site do Birico: biricoarte.lojaintegrada.com.br