Isso é um cachimbo, 2020, de Dentinho. Tamanho: 29,7 x 42 cm. Tiragem: 20 unidades. Foto: reprodução

BIRICO: PROJETO REÚNE 30 ARTISTAS EM PROL DA CRACOLÂNDIA

por Deri Andrade

28 de julho de 2020

Isso é um cachimbo, 2020, de Dentinho. Tamanho: 29,7 x 42 cm. Tiragem: 20 unidades. Foto: reprodução

“Alguns artistas foram convidados para participar do projeto por terem em seus discursos ou em suas pesquisas algum diálogo com a realidade que o grupo gostaria de desestigmatizar”, explica para o Projeto Afro o artista Pablo Vieira. Ele fala sobre a região da Cracolândia, um território central em São Paulo marcado pela vulnerabilidade social. O projeto que menciona é o Birico, que reuniu 30 artistas de diversas linguagens e condições sociais com a intenção de gerar uma economia colaborativa para dar fôlego às ações que acontecem na Craco, como é popularmente conhecida, com a venda de pôsteres e impressões de tiragem limitada a preços acessíveis.

Cuidado Sabão da Costa, 2020, de Pablo Vieira. Tamanho: 59,4 x 42 cm. Sem tiragem. Impressão a laser sobre papel offset 120gr. Foto: reprodução

A cultura e a arte já atuam na Cracolândia há algum tempo, exercendo seu papel social através da ação de diversos coletivos, entre eles A Craco Resiste, Casa Rodante, Cia. Mungunzá, É de Lei, Pessoal do Faroeste, Projeto Oficinas e Sem Ternos. São projetos realizados no intuito de mitigar as dificuldades enfrentadas por pessoas em situação de rua e por usuários que habitam a região. Diante dos desafios impostos pela pandemia causada pela Covid-19, a disparidade social ficou ainda mais excludente no local.

Raphael Escobar, outro artista por trás do Birico, explica que a ideia foi reunir agentes de diversas áreas da arte em prol de um tema caro a todos. “Nós não vemos o território com uma relação de dó e nem responsabilizamos o usuário pela sua situação, nesse grupo existe um consenso que a responsabilidade desse território e das pessoas é do Estado. Talvez seja o ponto mais importante de maior intersecção entre todos e todas nós”, cita.

Processo de Construção de “Mutualismo”, 2013, de Raphael Escobar. Tamanho: 29,7 x 42 cm. Tiragem: 20 unidades. Foto: reprodução

Com uma loja online lançada há poucas semanas nesta reta final – as vendas ocorrem até 31 de julho -, Escobar conta que o projeto já vendeu mais de 666 obras, entre prints numerados e pôsteres, para 150 apoiadores diferentes. “Esperamos que até o fim da ação possamos garantir um valor maior que um salário mínimo para cada artista participante, além da possibilidade de continuidade de ações no território como a distribuição de máscaras de proteção contra a Covid-19, por exemplo”, pontua o artista.

Os recursos arrecadados pelo Birico serão divididos igualmente entre dois fundos criados, um para apoiar ações emergenciais na Cracolândia e outro para ser repartido igualmente entre os/as/es artistas participantes. Alguns, inclusive, integram projetos que apoiam a região; outros vivem ou viveram no território, na calçada ou em hotéis sociais na Craco.

Nos braços da mãe Nanã o amanhã está seguro, 2020, de Renata Felinto. Tamanho: 29,7 x 42 cm. Tiragem: 20 unidades. Foto: reprodução

Vieira explica que a atuação do Birico também garante mais uma fonte de renda aos artistas em situação de vulnerabilidade. Além disso, “seus trabalhos são inseridos em um sistema historicamente excludente como o das artes, tentando garantir a possibilidade de democratização do pensamento estético e horizontalização dos lucros, pautas bastante difíceis de serem implementadas usando as ferramentas que o mercado de arte nos proporciona nesse momento”, enfatiza o artista, que apresenta um pôster com o título Cuidado sabão da costa, criado especialmente para o projeto. Além de Pablo Vieira, o Birico reúne trabalhos de outras artistas que estão no mapeamento do Projeto Afro, como Mônica Ventura, Juliana dos Santos, Aline Motta e Renata Felinto.

Com a força do coletivo, o Birico foi se formando horizontalmente. Seus integrantes realizam as funções que o projeto demanda, como a elaboração dos catálogos, a gestão do site e do perfil no Instagram. A produção ficou a cargo de Marina Barbosa. Birico é o nome dado à pedra de crack repartida. Como seu texto introdutório explica, o projeto surge em um momento distópico para formular “uma estratégia de sobrevivência e, muitas vezes, de solidariedade e parceria, de quem está acostumado a viver com poucos recursos.”

Confira o site do Birico: biricoarte.lojaintegrada.com.br

Fabíola Nascimento, 2017, do Grupo Mexa – díptico. Tamanho: 29,7 x 42 cm cada. Tiragem: 20 unidades. Foto: reprodução