MAPEAR: UM PANORAMA DA ATUAÇÃO DO PROJETO AFRO EM 2023

por Deri Andrade

30 de janeiro de 2024

Em junho de 2020, o Projeto Afro lançou sua plataforma com 135 artistas no mapeamento. Diante do número que parecia ser expressivo, escrevi este texto inaugural que contou parte do processo de concepção e construção do Projeto. Quase quatro anos depois, com diversas ações realizadas e uma exposição no currículo, “Encruzilhadas da arte afro-brasileira”, em cartaz no CCBB São Paulo, a plataforma atualiza seu mapeamento e apresenta mais de 300 artistas em suas páginas. Para ser mais exato, 327 artistas negros/as/es ocupam este portal, neste momento, oriundos de todas as regiões do Brasil. Em um exercício de pensar mapeamento como uma forma de visibilizar essa produção, que se mostra cada vez mais diversa em pesquisas, técnicas, suportes e estilos, o Projeto foi ganhando força ao longo desses anos e se consolidando como o maior do meio.

Nova página inicial do site, com galeria de artistas do mapeamento. Foto: reprodução

Aquele número inicial, de certa forma, parece pequeno diante da conjuntura atual. Nesses quase quatro anos, aliás, exposições, outros projetos e pesquisas surgiram como “exercícios de mapeamentos para alterar os centros”, parafraseando a colega curadora e pesquisadora Luciara Ribeiro em seu artigo para o site. No texto, a autora cita algumas ações, fora do eixo Rio-São Paulo, que corroboram a máxima para um outro referencial que propõe se pensar a produção de autoria negra no Brasil atualmente. Mesmo com importantes marcos de mostras monumentais que ocuparam as paredes de instituições como Sesc, a citar “Dos brasis: arte e pensamento negro”, ou o CCBB São Paulo, com a própria “Encruzilhadas da arte afro-brasileira”, ainda me inquietava o fato do mapeamento do Projeto não alcançar, com a devida envergadura, as demais regiões do Brasil. Tais mostras acima citadas apresentam uma produção de todas as partes do Brasil, entretanto, o mapeamento ainda concentra maior parte de sua pesquisa no sudeste do país.

Vista da exposição “Encruzilhadas da arte afro-brasileira” está em cartaz no CCBB SP, com obras de André Vargas e Mulambö. Foto: Projeto Afro

Diferente dos dados apresentados em seu lançamento, hoje, a plataforma abarca mais regiões e se torna referência no meio. Isso, por sua vez, vem no bojo de uma programação que percorreu todo o ano de 2023, graças ao apoio do Instituto Ibirapitanga. Foram realizadas 3 programações públicas: no dia 06.01, aconteceu o evento online “Exercícios de Mapeamentos para alterar os centros: contribuições e provocações” , com Luciara Ribeiro e Rebeca Carapiá, mediado pelo autor deste texto; no dia 27.09, aconteceu a roda de conversa “Criações, gestões, coleções e consumos de artes produzidas por pessoas negras”, com Marcel Diogo e Rodrigo Mitre, também mediada por mim, na Galeria Mitre, em Belo Horizonte; já no dia 06.01.24, foi realizada a “Conversa com o artista Gustavo Nazareno e curador Deri Andrade – Encontro de encerramento da exposição Bará”, no Museu Afro Brasil Emanoel Araujo, em São Paulo.

Roda de conversa “Criações, gestões, coleções e consumos de artes produzidas por pessoas negras”, com Marcel Diogo e Rodrigo Mitre, também mediada por mim, na Galeria Mitre. Foto: Vitú de Souza

Entre os artigos publicados na plataforma a partir de convites feitos para pesquisadores e artistas, o Projeto publicou 8 textos no site e 1 ensaio visual: Exercícios de mapeamentos para alterar os centros: Contribuições e provocações; arte contemporânea para uma pedagogia decolonial do patrimônio cultural; Por uma obra a longo prazo: da casa de bisavô bené ao presépio do pipiripau de Raimundo Machado; Inside – a natureza e os sistemas curatoriais; Poemas batedores de carteira: notas de bolso sobre Barcelona; Mãe, hoje é amanhã; e o ensaio visual  de Vitú de Souza / Nagôgrafia, que é a primeira obra que inaugura a coleção do Projeto Afro.

Além de uma série de publicações nas redes sociais, com leituras de obras de artistas do mapeamento, que confirmam a atuação do Projeto Afro como um local de difusão de pesquisa e debate sobre a produção de autoria negra no Brasil. Os textos foram produzidos por pesquisadores e curadores que atuam em diversas frentes. Ao passo que a plataforma vai se formando, essas ações do último ano são, também, parte dos caminhos pelos quais o Projeto quer percorrer daqui para frente.

Se, por um lado, a exposição “Encruzilhadas da arte afro-brasileira” se mostra como um importante definidor da atuação do Projeto Afro no âmbito físico, a realização de uma programação online, cuidadosamente pensada, também lança o Projeto como um significativo canal de cultura e arte no Brasil. Torcemos para que os caminhos continuem abertos!

 

A produção deste artigo é apoiada pelo Instituto Ibirapitanga.